A entrada do diesel Russo no Brasil não é novidade. No mês de junho o produto vindo daquele país voltou a suprir mais da metade do diesel importado pelo Brasil, batendo um novo recorde, de 64,1% do total de 1,08 milhão de m³, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
A grande questão é até quando o preço do óleo diesel Russo vai ficar tão “competitivo”. Segundo Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, o valor do diesel Russo está sendo negociado com um desconto de R$190/m³ em relação ao diesel vindo de outras origens, um desconto de R$ 0,19 por litro.
No entanto, a tendência é que os preços comecem a convergir. “Tínhamos um desconto muito maior há um mês e meio, mas ele está ficando mais próximo. Isso acontece porque tem mais demanda por ele e os vendedores russos estão começando a se dar conta de que o produto está muito “descontado” e não querem perder margem”.
O especialista diz que a tendência é que o produto continue tendo um desconto, mas em proporções menores. Esse aumento da oferta de produto russo no Brasil é um dos efeitos da guerra com a Ucrânia. Sem conseguir colocar o óleo diesel no mercado europeu, a Rússia começou a buscar novos mercados.
No Brasil, comenta Boutin, a Nimofast foi a pioneira na importação do óleo diesel russo. Atualmente o produto entra pelos portos de Suape, Santos e Paranaguá, o que favorece sua distribuição em todas as regiões do país. Para o especialista, esse recorde de participação se deve ao aumento do número de empresas que começaram acessar o produto.
Ele destaca o crescimento da participação das Distribuidoras Regionais, principalmente em mercados como o do TRR (Transportador-Revendedor-Retalhista), mas o perfil dos compradores, explica, também está mudando. O produto que inicialmente era adquirido por Distribuidoras menores começa a ser comprado também pelas chamadas Distribuidoras tradicionais. “Algumas delas estão conseguindo acessar o produto e conseguiram importar também.”
Já houve rumores no mercado sobre o risco de desabastecimento do mercado no caso da retirada do produto russo. No entanto, Amance Boutin explica que como não há sinais de que a guerra entre Rússia e Ucrânia tenha um fim próximo, a oferta do produto russo permanece em níveis altos. Por outro lado a Petrobras também intensificou a produção do S10, o que elevou ainda mais a disponibilidade de produto no mercado.
O risco de desabastecimento poderia se tornar preocupante caso as Distribuidoras perdessem o acesso ao produto russo, no entanto o especialista afirma que “hoje a maioria das empresas do Sindicom já trabalha com o diesel russo, então esse argumento não é válido na situação atual. Pela proporção do volume se comprova que tem distribuidoras grandes que estão importando diesel russo, então o abastecimento não é um problema no momento.”
Em relação ao preço, Boutin ressalta que é preciso ficar atento ao preço que será praticado pela Petrobras. “Quem estava de olho no diesel russo e falando “tem uma diferença enorme, vou importar a rodo”, está em uma situação de ter que pisar no freio, pois a Petrobras mudou a maneira de como ela enxerga a precificação do diesel e da gasolina. Acreditamos que haverá uma redução na diferença de preço, mas o produto continuará a ser importado.”
Segundo a Argus no momento a demanda de óleo diesel é boa e está sendo pautada pelo agro. “O Brasil tem um pico de diesel que deve ir até agosto ou setembro, depois, no final do ano, a demanda tende a reduzir um pouco. Estamos vendo um consumo bem pujante por conta desses recordes de produção de grãos, de exportação.”
A Argus produz relatórios de preços e análises para os mercados internacionais de energia e outras commodities, sendo referência no preço físico do diesel.